quarta-feira, 16 de maio de 2012

dois olhos, dois ouvidos e uma boca.


Há alturas em que me sinto à vontade e falo até as pessoas se fartarem de ouvir. No entanto, a maior parte das vezes prefiro ouvir e observar do que proferir qualquer palavra. Gosto de observar a linguagem corporal de cada um, olhar para as expressões faciais que não mentem como as rugas de sorrir ou aquele breve revirar de olhos que ninguém nota. Adoro descobrir a verdade. Adoro desmanchar mentiras, mesmo que seja só na minha cabeça. Mesmo quando me mentem na cara, descaradamente, calo-me metade das vezes para observar até onde a mentira chega ou o quão fingidor alguém é.

Há quem me aponte isso como defeito, mas gosto de olhar para a vida de estranhos. Embora seja falta de educação ouvir as conversas dos outros, a verdade é que em ocasiões em que tal é impossível evitar adoro ficar atenta ao que dizem. Gosto de ouvir opiniões de pessoas que não me são nada, desde os assuntos mais banais e fúteis aos mais profundos e filosóficos. Imagino as vidas deles e crio histórias na minha cabeça. Imagino as situações que relatam e o carácter que os caracteriza. Gosto de acreditar que me cruzo com pessoas de bom génio todos os dias, no comboio, na rua, na faculdade ou noutro sítio qualquer. Já tive bastantes boas experiências com encontros ocasionais na rua que me deram lições de vida que jamais esquecerei.

Dou por mim confrontada com olhares indignados de tanto tempo que os estive a ver. Mas ver é uma palavra demasiado profunda para se conjugar com a palavra 'estranhos'. A verdade é que sempre adorei quando pessoas que dizem que me conheceram muito calada, acrescentam "mas com um olhar muito atento". Gosto que reparem nisso. Que percebam que não sou um cepo sem graça ou uma atada envergonhada. Gosto quando entendem que existem pessoas que gostam de observar antes de proferirem mais do que cinco palavras.

É que por algum motivo temos dois olhos, dois ouvidos e apenas uma boca.

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