quarta-feira, 19 de novembro de 2008

abraço perfeito



Há dias em que recordo esse abraço, nunca falei sobre ele a ninguém (pelo menos que me lembre), mas digo-vos com toda a certeza: foi o melhor abraço que alguma vez eu recebi. Não que haja grande diferença na maneira de dar abraços, mas este significou tanto tanto...

Durante três anos, claro que houve abraços, mas sempre foram , digamos, "normais". Não sei se conseguirei explicar bem isto, mas vou tentar. Afinal já está na altura de partilhar isto com alguém. Durante três anos, houve uma mudança de opinião, o nascer de uma amizade, o aprofundar da amizade, os entraves que punham à nossa frente e que fomos sempre ultrapassando. A relação nasceu e foi mudando, sempre para melhor. Nunca nada disto me tinha acontecido, nunca senti a amizade que senti desta vez, por um adulto. Provavelmente já sabem de quem falo... Comecei a perceber que os adultos não eram um bicho esquisito que não entendia a nossa mente, eram e são pessoas normais que podem ser óptimos amigos. Aprendi isso e muito mais, com esta amizade.

Sempre me disse que podia contar com ela para tudo, um dia até me surpreendeu quando eu estava naqueles dias "não" e telefona-me (sem eu ter o número) para eu ficar com o número, ajudou-me quando mais ninguém o conseguiu (não por incapacidade, mas porque simplesmente não dava) e , muito sinceramente, estou-lhe grata por tanto. Muito do que sou hoje, deve-se a esta amizade. Mas, por haver uma diferença de idades ainda considerável (pouco vulgar verem-se amizades assim, por isso havia sempre quem olhasse de lado), nunca esperei que com o trabalho, casa, família, e outros amigos , me tivesse tanto em conta.

Quando houve aquela "crise" em que a turma não merecia o minímo que a stora fazia por nós, e a stora nem estava em condições de vir dar aulas... Uma parte de mim gelou. Tantas vezes ela se preocupara comigo, me consolara, tudo, eu tinha que retribuir. Não por obrigação, mas porque não queria por nada deste mundo voltar a ver lágrimas, não daquelas. Não era justo que uma pessoa que se esforçava tanto por nós, ver toda essa dedicação ignorada pela turma que mais a marcou. Naquele dia, nem nos conseguia olhar na cara, ignorava , fingia que não ouvia as nossas preocupações , os nossos pedidos de desculpa (embora não fossemos nós que tivéssemos a culpa). Estremeci, não era capaz de ficar descansada enquanto não ouvisse uma palavra. Cheguei a casa e telefonei. Não atendeu uma, não atendeu duas e atendeu à terceira muito depois do primeiro toque. Nunca pensei vir a tornar-me tão íntima, sentir que finalmente estava a ser útil, a ser realmente amiga. A ouvir, consolar.

Promessas que eu fazia e promessas que me eram feitas quando mais precisava, conversas depois das aulas (às vezes até nas escadas com a matilde a cuscar xD), bons-dias em que se falava de coisas relacionadas com o que tinhamos conversado, as mensagens e os telefonemas, os textos que eu mostrava, a cumplicidade, os segredos que só aquela stora sabia. Tanta coisa, que ficaria aqui o dia inteiro.

Chegou o último dia, realmente o último em que passaria o meu dia-a-dia com esta professora que eu já não vejo como uma professora, mas como um amiga. Uma grande amiga. Das melhores pessoas. Nunca encarei este dia como uma despedida, mas como um até já. Uma mudança na nossa vida. Mas nunca uma despedida. A despedida implica um "adeus" e jamais haverá um adeus. Mas nesse último dia, fui incapaz de largar, queria aproveitar os últimos minutos em que eu estava ali como aluna das salesianas com farda, sub-delegada da família B e "cabide" ou transporta-malas da stora :P .
Havia trabalho para fazer, mas fui acompanhando. Não havia muito para falar. Eu dizia que nada mais seria o mesmo, que aquela escola fora de longe a melhor onde já estive, onde fiz os melhores amigos, onde me descobri e me descobriram. Quem não reconhecesse isso, era cego. Recordei como tudo começara, como as amizades nasceram, os momentos mais parvos e mais felizes que foram vividos. Ali fora feita História. História da minha vida.

Tinha que ir embora, já eram horas de despedir-me daquele corredor, do silêncio que ali se presenciava, da lágrima que estava no canto dos nossos olhos. Eu tinha que ir para casa, embora sempre sentisse que a minha verdadeira casa era ali, naquele sítio com freiras e retratos religiosos por toda a parte. Ela tinha que ir trabalhar, mas eu sei que ficou durante o tempo todo a pensar em nós, que durante três anos a acompanhámos. Despedimo-nos. Dois beijinhos e quando estava a virar costas, ela chama-me: Venha cá. . Abraçou-me, um abraço inesperado mas sentido. A conclusão de uma história, o reflexo de todo o tempo que passou. Ali , naqueles segundos demorados - e desta vez , o Tempo deixou-nos em paz, sem apressar nada - revivi toda a nossa amizade.

A lágrima caiu, mas esboçou um sorriso. Jamais diria adeus.

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