Há músicas que dizem tudo, imagens que mostram como tudo devia ser, mas eu limito-me a ficar aqui sentada, neste sítio a que alguns vêm rezar. Eu não acredito em Deus, não me faz o minímo de sentido. Mas vim para aqui, porque pareceu-me ser o local mais sereno ao pé de casa. Gosto disto, quando venho para aqui posso cantar para um eco me ouvir. Aqui estão duas guitarras e um piano, mais os microfones. Começo a cantar. Não interessa como canto, interessa que sinto o que canto.
Mas cantar sozinha é triste, é solitário. Já me sinto só aqui, sinto-me sem os ombros onde choro, sem as mãos que me levantam, sem os abraços que me confortam. Não preciso de me sentir sozinha outra vez. Na verdade, quero cantar com ele. Quero sentir a harmonia de duas vozes.
Mas as cordas da guitarra partiram-se e as vozes desafinaram-se, trazendo com elas todo o cinismo, hipocrisia do mundo real. Estragaste-me o momento só pelo facto de estares por perto, de te ver mais uma vez, e de mais uma vez, olhares-me nos olhos e mentires-me como outrora fizeste. Roubaste-me o que dizes eu ter-te roubado, quando por tua culpa, tua e tão grande culpa, só tive duas semanas da cumplicidade necessária para uma canção soar bem. Roubaste-me isso e atiras as culpas para mim?
De repente, vejo-me rodeada de uma multidão de ti. És tu em todo o lado, quando eu quero mesmo é ver-te em lado nenhum. Já o tens de qualquer maneira, e ainda dizes que é verdadeiro o que sentes? É sensato faze-lo partir contigo, deixando tudo para trás para quando deixares de querer a sua alma, atirá-lo de volta para alma nenhuma o receber de braços abertos?
Esquece, continuo a ver-te mas desprezo-te. Começo a tocar, a música torna-se mais melodiosa e faz-te desaparecer.
Quando voltares, farei o mesmo.
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