segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Pobres dos ricos que tanto têm..

Novembro de 2004

Pão por Deus! - ecoava-se por ruas desconhecidas, em estradas desertas onde a única presença viva eram os latidos dos cães que guardavam as casas em que tocávamos para pedir doces.
Foi aí, meus amigos, que me apercebi a bela merda de mundo em que vivemos.

Em Manique há uma rua em que a estrada é a fronteira entre uma vida próspera e (supostamente) feliz e o limiar da miséria. Tocámos à campainha do enorme condomínio, por volta das onze da manhã. Tocámos mais uma vez. Escolhemos outra campainha e de novo a ausência de resposta. Mas todos víamos as pessoas, lá dentro, num frenesim e atarefadas com a sua manicure e a perguntarem porque tinham comprado o creme x em vez do creme y. Bem, havia umas vinte campainhas e tocámos em todas.
Ouvimos o barulho do portão a abrir-se, e um rapazinho com um cesto a acenar-nos. Atrás dele, apareceu o pai a chamar-nos para entrar. Já não tinha muito para dar, mas agradecemos e fomos embora. Olhei à volta, e reparei que, de repente, as portadas estavam todas fechadas. Dezanove snobs que, no pensamento, eu mandei para um sítio.

Atravessámos a estrada. Já não íamos com muita esperança, no outro lado as casas quase que caíam aos pedaços.. Tocámos à campainha, um minuto depois um velhote de bengala e um sorriso na cara abriu-nos a porta. Entrámos, e também era um, por assim dizer, condomínio. Em condições péssimas. Todos nos abriram a porta. Deram-nos laranjas, rebuçados, dinheiro, bolachas, pão.
Saí dali com um sorriso, mas por dentro uma sensação estranha invadia-me, como se algo estivesse errado. Na altura não me apercebi do que era, mas com o passar do tempo isso manteve-se no meu pensamento, ensinando-me uma lição que cedo, todos devíamos aprender: não importa o quanto damos, mas sim se queremos dar.

A outra lição que aprendi foi que o ser humano é muito egoísta, quanto mais tem, menos dá.

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