domingo, 12 de dezembro de 2010

Pequenos grãos de areia - O Tempo



Pequenos grãos de areia

Há momentos em que o tempo pára. Em que os grãos da ampulheta não caem e o ponteiro dos segundos se imobiliza. Antes cai o Mundo e se trava uma batalha com a alma petrificada. Há momentos em que o tempo foge. Que corre e se nos escapa por entre os dedos, deixando nada mais que profundas pegadas no cimento.

"Tudo é eterno, enquanto dura", disseram-me um dia. Eu sabia que não havia de ser eterno o segredo que, no fundo, eu já sabia, mas que nunca me fora revelado. Antes arrancado, com as ensanguentadas mãos feridas de uma guerra interior demasiado duradoura. Não foram precisos mais de trinta segundos para se mudarem duas vidas inteiras.

Falem-me da preciosidade que esse tempo tem. Eu digo-vos que nem o próprio tempo faz sentido, é recheado de incongruências. Temos de esperar, de dar tempo ao tempo, mas o tempo não espera por nós. O tempo cura, mas o tempo também magoa, se se demorar. Qual a medida de cada coisa? Os grãos de areia não param de cair, os segundos morrem, mesmo que cheios de vida, e os que ainda vivem são cada vez mais escassos.

Se esses grãos de areia fossem dias, muito poucos seriam semelhantes. Mas são só grãos de areia, idênticos uns aos outros. Lá dentro é que têm momentos. E, por vezes, duzentos grãos pouco mais fazem do que apenas ocupar espaço na vida. Outras vezes, um só grão transforma-a por completo.


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Escrevi este texto na parte III do teste de português. A stora Cidalina faz os testes à semelhança do Exame Nacional. Por isso, como não temos 2 horas de aula, a stora guarda a parte III para a última meia hora da aula seguinte. 

Desta vez, as palavras saíram facilmente. Estava naquela fase em que ainda é tudo muito fresco, mas não demasiado fresco para continuar inefável (para quem não sabe, inefável significa não se conseguir expressar. Quando acontece algo muito grave, não se consegue escrever sobre isso no momento, porque o sentimento ainda está muito presente, muito no seu estado natural, não está racionalizado, por exemplo).

Esta composição valeu-me ser um dos melhores textos da turma (era eu e outra rapariga) - embora eu não ache que esteja assim tão bom -, com classificação de 30/30 no conteúdo e de 18/20 na forma, o que dá 48/50. Quase classificação máxima! Com os critérios dos Exames! Isso, mais o 16,9 do teste, deu-me um grande ânimo. Vou num bom caminho para usar Português como prova de ingresso! Ainda tive direito a uma nota da stora no sítio da apreciação: "Parabéns! (Um teste com alma...)". 

"As meninas que tiveram 30 têm uma vantagem sobre vocês... Têm uma história pessoal muito atribulada. Por isso é que eu digo que nenhum artista tem uma vida pacata e serena. Vivem muito com as emoções." - este comentário foi uma massagem ao ego que nem vos digo, nem vos conto. Soube mesmo bem ouvir isto de uma pessoa que tenho tanto em consideração e que admiro tanto :)

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