sábado, 12 de março de 2011

Dos melhores amigos



Desde que perdi a minha melhor amiga - ou, melhor dizendo, desde que ela me virou costas sabe-se lá porquê - que tenho andado a pensar em fazer a famosa reciclagem de amigos. A vida dá muitas voltas, não é o que dizem? Desta volta é que não estava à espera, até porque a Matilde foi a pessoa com quem tive melhores momentos a toda a hora. Até ela decidir que a fama e a glória (como quem diz, escrever um livro de poemas e ser chulada pela editora) eram mais importantes que preservar quem esteve ali para os seus piores momentos. Achou que verdadeiros amigos eram os que a incentivavam a fazer o que ela queria e lhe davam palmadinhas nas costas, mesmo que isso implicasse ela estar a cometer o maior erro da vida dela. Mas não interessa. Infelizmente, vou ter que deixar no passado a pessoa com quem fiz uma aposta de 50€ em como não ia passar a lua-de-mel no Alasca. A pessoa que, basicamente, eu acreditei mesmo que ia ficar aqui para sempre.

Então tenho pensado nas minhas amizades. Aquelas amizades em que se chateiam à séria, até por coisas parvas, mas depois fazem as pazes. Pedem desculpa. Como diria uma pessoa que eu conheço, "o que vos acontece de mal, só vos faz é bem" e, verdade seja dita, apenas os amigos com quem já passei momentos maus é que ficaram. Aliás, momentos muito maus e que aturaram o meu péssimo feitio, que foram superados com pedidos de desculpa e abraços. E reparei que nunca tive isso com a Matilde, era raríssimo chatear-nos. Era o que mais gostava em nós. Éramos opostas, totalmente opostas, mas entendíamo-nos. Eram personalidades compatíveis, mas quando nos chateávamos, as nossas pazes eram voltar a dar-nos como se nada tivesse acontecido. Mais tarde, vim a perceber o valor de conversar e pedir desculpa. Fortalece a relação.

Pensei e encontrei no meu passado essas situações com a Inês, com a Madalena, com o Miguel, com a Adriana, com a Filipa, com a Sofia... Umas mais duras que outras. Mas sempre ultrapassámos. E foi isso que criou a ligação que temos hoje. 

Hoje, de manhã, mandei mensagem à Inês bem cedo a dizer que estava na merda. Ontem já lhe tinha dito que estava com uns problemas, mas hoje precisava mesmo de falar. Ela, assim que acordou, ligou-me. Ficámos a falar uma meia hora, acho eu. Eu precisava de chorar com alguém e, apesar de não falar com a Inês desde o meu aniversário, sabia que ela ia entender-me na perfeição. Aconselhou-me, falámos de mim, falámos dela. Até no banho ela estava a falar comigo. Fez-me bem tirar este peso do coração. E sei que posso fazer isso com qualquer uma delas, ligar, falar, chorar, desabafar, gritar, dar em doida, e elas não me vão julgar. Mas liguei à Inês porque ela já passou pelo que passei. E, principalmente, porque ela já teve a mesma lição que eu: que nem tudo pode ser tão linear assim. Que não vale a pena julgar uma situação e, mesmo com boa intenção, pôr-se na defensiva e ser super protectora. É preciso, sim, encarar os factos. Mas é preciso, também, perceber que tudo pode ser subjectivo, principalmente no que toca a estas situações. Não menosprezo, deste modo, a objectividade. É essencial para clarificar as ideias. É preciso que eles, os nossos amigos, sejam objectivos connosco quando sobre nós está um novelo completamente emaranhado de ideias. A objectividade deles dá-nos outra visão, clarifica-nos. Mas quando toca a fazer juízos de valor, é preciso ser-se subjectivo, até porque uma moeda tem sempre duas faces.

E dou graças a Deus por ter amigas que, cada vez mais, entendem isso em mim. Nunca pensei que ter mente aberta fosse tão crucial na vida das pessoas. Saber que existe alguém que não nos vai julgar, nem à situação, dá-nos um à-vontade tão grande que, no fim, quando tiramos o peso do coração, vemos que o problema até nem era assim tão grande e damos por nós a pensar "que exagerada que fui". E voltamos a sorrir, e a recuperar a nossa sanidade mental que fugiu e quase nos tornou doentes, porque simplesmente não tínhamos como soltar a angústia ou como ter paz de espírito, porque nos sentimos rodeadas de pessoas que, consciente ou inconscientemente, nos vão julgar na cara ou nas costas. 

É nestes momentos que percebemos a importância de ter amigos assim.

E hoje quero agradecer, especialmente, à minha Inês. És uma irmã impecável #

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