domingo, 21 de agosto de 2011

the world can be a living hell.

digamos que ando com um ódiozinho a incendiários que não vos passa pela cabeça... fui para a aldeia do pé-da-serra, em nisa, onde tenho casa e família, passar 5 dias. 5 dias que tiveram de tudo e mais alguma coisa, mas o pior mesmo foram os incêndios. dia 12 de agosto foi o dia em que quase vi a minha casa a arder. literalmente. sinceramente, estes incêndios já eram mais ou menos esperados pois há muito mato seco e pessoas mal-intencionadas. mas não deixa de ser horrível. a uns poucos quilómetros de minha casa, tinha começado um incêndio por volta das três da tarde. cheirava-se o fumo e voavam as cinzas, e as chamas cada vez mais perto. até que as labaredas atingem altura suficiente para tocar nos fios de electricidade, causar sobretensão e rebentar com os fusíveis da aldeia. basicamente, grande parte das coisas que estavam ligadas quando se deu o curto circuito deixaram de funcionar. o meu aspirador é um exemplo disso.

e foi esse curto-circuito que desencadeou o fogo que me ia deixando sem casa. um quadro eléctrico da rua fez o tal curto-circuito, deve ter explodido ou deitado alguma fagulha no mato seco do terreno à frente da minha casa e foi suficiente para as chamas começarem a lavrar tudo aquilo. lembro-me de estar na cozinha a lavar copos e achar muito estranho ver fumo a vir da direcção contrária ao incêndio que eu sabia que flagrava. fui ao quintal. disse aos meus pais o que estava a ver. comecei a gritar. os palavrões de raiva eclodiram e gritei até toda a gente acreditar em mim. não foram precisos mais que dez minutos até as chamas chegarem bem perto do meu muro. 

a gnr deu ordem de evacuação. entreguei as cadelas à minha irmã que só chorava de pânico. fiz duas malas cheias de roupa em trinta segundos. e perguntaram-me onde estava o meu pai.
Incêndio à frente da minha casa, 12 de Agosto de 2011
voltei a correr para casa. o fumo tornava o ar irrespirável e eu já só conseguia tossir. peguei numa t-shirt, mergulhei-a na água onde estava a lavar os copos e pus à frente da boca. gritei para o meu pai vir embora. ele estava a molhar o terreno e as nossas árvores. fui buscar mais umas coisas e quando voltei novamente a casa vi as chamas enormes, não conseguia respirar e o meu pai ali com uma mangueira sem pressão nenhuma e baldes com água da piscina. mandei a minha irmã para a casa da minha tia, de onde ela tirou a fotografia acima. quando voltei pela sexta vez a casa já o helicóptero dos bombeiros tinha apagado aquele inferno. claro que há sempre reacendimentos e troncos que ficam em brasa prontos a pegar fogo novamente. foi ver toda a gente com baldes de água a subir e a descer o monte a apagar os mini-fogos (como lhes chamei). estivemos horas naquilo, eu já estava toda preta das cinzas, roupa toda encharcada com a qual também apaguei fogo quando já não tinha água no balde. 

Até onde chegaram as chamas...

julgo que apareceu nas notícias mas como a aldeia ficou sem electricidade ninguém viu nada. mas por mais que os media gritem ao país todos os incêndios existentes, todas as causas e suspeitos, ninguém sabe as consequências até viver aquilo bem de perto. a parte mais bonita de todo este terror foi ver toda gente a lutar pelas casas que até nem eram deles. no meu quintal entrou toda a gente e mais uma para encher os baldes na piscina, saltar o muro e ajudar os bombeiros. é como quem diz que a união faz a força. mas depois ninguém imagina o que acontece aos pulmões que ficam carregadinhos de carvão. é passar o resto dos dias a beber leite para não ficar com os pulmões piores que fumadores compulsivos com 70 anos de tabaco. ou então aos animais. as vespas ficam completamente desorientadas e chocam contra as pessoas, começam a criar vespeiros nas caixas do correio e em todo o sítio e mais algum. os gafanhotos, em fuga, batem nos vidros das janelas. nunca vi eu tanto gafanhoto ao mesmo tempo, a saltarem e a chocarem contra tudo e todos. 

e só de imaginar os veados, esquilos, pássaros, javalis, tudo a fugir do fogo e a não encontrarem escapatória... e o gado que ficam fechados nas tapadas dos agricultores, todo queimado por não conseguirem fugir... dói mesmo, só de pensar. animais tão inocentes em agonia, pânico e a morrerem de forma dolorosa devido à existência de bestas quadradas de mota com garrafas de coca-cola com gasolina lá dentro e um fósforo. (sim, foram avistados dois filhos da puta assim)

dói. e dá que pensar em que mundo é que vivemos onde o Homem é o animal.

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