domingo, 30 de outubro de 2011

está na minha natureza.

Fotografia por Henrique Frazão (www.henriquefrazao.deviantart.com)

“ – Era uma vez um Escorpião, que vivia nas margens de um rio, um dia, depois de uma grande chuvada, a água do rio começou a subir de forma ameaçadora para o Escorpião, este, ao ver que a água não parava de subir e seguramente iria chegar à sua toca, o que o faria morrer afogado, começou a chamar um Sapo que descansava numa pedra e pediu-lhe para o transportar nas suas costas até à outra margem. O Sapo, disse-lhe que não, porque sabia que o Escorpião lhe picaria e lhe provocaria a morte. Mas o Escorpião, com toda a sua capacidade de argumentação, lá convenceu o sapo a transportá-lo e assim aconteceu. Quando iam no meio do rio, o Escorpião, picou mesmo o Sapo, envenenando-o. O sapo, antes de morrer ainda teve tempo de perguntar ao Escorpião: “ – Porque me picaste? Agora morreremos os dois!”. 

O Escorpião, respondeu ao Sapo, dizendo-lhe apenas: “ – Está na minha natureza

--------------------------------------------------------------------

Mandei isto à Frazão, não exactamente assim mas mais resumido, e perguntei-lhe "moral da história?". E a resposta dela, que já me conhece bem, foi esta:

A tua moral é fácil... Tu respondias assim "os homens acabam sempre por pensar com a cabeça de baixo" ahah, acertei?

Eu ri-me. Normalmente, consoante o tempo e o contexto, eu diria algo desse género. Mas, desta vez, não foi nisso que eu pensei. Tenho-me encontrado numa luta interior entre acreditar que as pessoas nunca mudam e ter fé que a essência de cada pessoa não se define pelos erros que ela comete. Afinal, todos nascemos bons, todos nascemos puros. Logo à partida, a nossa essência seria sempre inocente e genuína. Como o sorriso de uma criança. Mas será mesmo assim?

À medida que crescemos vamos cometendo erros. Uns inconscientemente devido a um estado impulsivo do nosso crescimento, outros de forma consciente testando as leis do karma e da natureza. E o que é que isso diz de nós, quando o fazemos de forma consciente? Será que isso faz parte da nossa essência? Ou será algo que é mutável, que apenas é originado da estupidez e egocentrismo de uma idade, de um tempo, de uma fase, seja ela qual for? "São os actos que determinam quem nós somos". Mas será mesmo assim? Será que por termos sido assim uma, duas, mil vezes, isso faz parte do nosso interior? Ou será que somos assim devido às circunstâncias? Por mais personalidade que se tenha, é inevitável não sentir alguma influência do que está à nossa volta. Mas é aí que se distinguem as fracas personalidades das fortes. Por melhor que seja a nossa essência, se não tivermos a força e a coragem de confrontar o mundo com isso, acabamos todos por cometer erros estúpidos. Pura e simplesmente para nos integrarmos numa sociedade de valores deturpados em que o mote é cada um por si e 'bora lá fazer merda enquanto podemos. Eles traduzem isso para: vive a vida.

Eu não concordo que isso seja viver. Mas aceito que se cometam erros. Desde que daí se tire alguma lição. E muitas vezes só quando vamos ao fundo é que aprendemos. Só quando caímos violentamente, de focinho no chão e corpo estatelado no asfalto é que percebemos que andar a brincar com o fogo pode não ter sido a melhor ideia. E quantas vezes esse brincar com o fogo não destruiu coisas irrecuperáveis? Quantas vezes não deixamos cicatrizes a quem não merece? Mas será que isso faz de nós más pessoas? Não, faz de nós seres incrivelmente estúpidos. 

E todo o estúpido que anda para aí eventualmente acorda. Se acorda tarde demais, isso já é outra questão.

Esta continua a ser uma batalha que decorre nas minhas filosofias, escrevo e volto a escrever para tentar chegar a uma conclusão. É como se estivesse a conversar com alguém. Até posso estar perdida num monólogo, mesmo isso faz com que surjam novas ideias e, talvez, novas conclusões. Hei-de continuar assim até encontrar uma resposta que me satisfaça, em que eu tenha plena fé e confiança. Até lá hei-de pensar, pensar e pensar.

Afinal, está na minha natureza.

Sem comentários: