domingo, 18 de dezembro de 2011

home is where my heart is.

Sempre me fizeram muita confusão as perguntas do género "pensas que estás na tua casa?" ou "pensas que estás no café?". Acho que foi uma professora de português, a primeira que me perguntou se eu pensava que estava no café, quando um dia me viu com os pés estendidos em cima duma cadeira vazia. Eu respondi-lhe que não, até porque no café nunca fazia aquilo. Ela expulsou-me da aula.
Era óbvio que eu não pensava que estava no café, mas sentia-me tão bem ali como na minha casa, e por isso é que tinha estendido as pernas para a cadeira da frente. Sentia-me melhor enquanto lia Camões se estivesse ali como na minha casa, e esse é o melhor elogio que se pode fazer a alguém. Eu achava-a boa professora e gostava das aulas dela. Era só isso. Era um elogio.


É também assim que se está no Amor, por exemplo, exactamente como se estivéssemos na nossa casa. Se não estivermos assim com alguém, então não é Amor. Até pode ser bom, mas não é Amor. Será eventualmente uma espécie de amizade, e então estamos como se estivéssemos no café, a pedir por favor que nos tragam uma bica e esperando que nos limpem a mesa com uma toalha antes de o servir.
O Amor é a nossa casa, porque quando ali chegados atiramos um sapato para cada lado e andamos de meias pelo chão. O Amor é isso, estarmos sempre na posição mais confortável para o nosso corpo e alma sem que o outro pergunte onde é que achamos que estamos. É que estamos com ele, com esse Amor, e é por isso que é assim. É assim no que dizemos ou calamos, no que rimos ou choramos, no que abraçamos ou beijamos.


Foi a palavra casa que deu origem ao verbo casar (casa + ar), e é isso mesmo que é casar. Estou a dizer isto porque ontem, depois de um dia de merda, abracei a Raquel e pousei a minha cabeça no ombro dela durante alguns segundos e em silêncio. Ao mesmo tempo deixei cair a mochila e o casaco no chão do corredor enquanto me descalcei e atirei os sapatos para lugar incerto. Ela não me perguntou se eu sabia onde é que eu estava porque ambos o sabíamos. Se não for assim, até pode ser bom, mas não é Amor.

Sem comentários: