quarta-feira, 21 de março de 2012

das desilusões. - sis :)

Um dia encontrei um daqueles textos que achei mesmo, mesmo perfeito. Hoje quis dedicá-lo à minha irmã de alma, uma pessoa que tem uma fé incrível. Isto é só um empurrãozinho :)


A prova, a grande prova, de que os nossos corações nunca se entenderão, está na forma como ambos vemos a vida e continuámos a viver. A verdade é que ambos mudámos muito. Nós, que sempre acreditámos em conjunto e acerrimamente que as pessoas não mudavam.

Eu não percebi, na época, que ele se tinha transformado numa versão ridiculamente absurda de quem ele tinha sido, em tempos. Não percebi que para ele, gostar de mim e, segundo palavras dele, eu ser tudo o que ele tinha de mais valioso na vida dele, não lhe chegava. Muito menos à distância. Não percebi que ele seria capaz de fazer o que fez com aquela rapariga de cabelos castanhos, óculos quadrangulares e casaco de malha entre aberto. Não percebi que, por acaso, isso seria o que de melhor me aconteceria na altura e não percebi que haveria uma fase na minha vida, como este último ano, em que daria verdadeiramente graças aos céus pela tremenda desilusão que tive, porque as desilusões nos dão a maravilhosa oportunidade de encontrarmos melhor. Muito melhor. Centenas de vezes melhor. Milhares de vezes melhor. Mas não. Nós não percebemos isso, no momento. Embrenhamo-nos na tristeza de uma forma assustadora.

E ele, ele não percebeu que não interessa o quanto ele me prove que nunca gostou dela. Ele não percebeu que não interessa se ele atravessa países para me pedir desculpas quatro, cinco, seis, sete, oito vezes por ano. Ele não percebeu que não interessa que ele me diga que está sozinho, tremendamente sozinho desde então. Ele não percebeu que não interessa que ele me continue a dizer que gosta de mim. Nem percebeu que eu já nem sequer me lembro dele, da pessoa dele, se ele não aparecer na minha vida. Ele não percebeu isso. Que ele se lembra de mim todos os dias da vida dele, mas que eu só me lembro dele porque ele mo obriga a isso. E que significado tem isso, lembrarmo-nos de alguém obrigados?

Ele não percebeu que quanto mais me diz que nunca gostou dela, mais me revolta. Mais desejo que o universo nunca, mas nunca mais, o deixe cruzar um único caminho que eu percorra no mundo. Ele não percebeu o quão desligada e distante me sinto dele. Ele não percebeu que quando olho para ele, como ontem o vi em pé, encostado à minha porta e com um pé sobre o meu canteiro, que vejo uma pessoa tão desconhecida e vazia quanto um completo desconhecido que se cruze comigo na Oxford Street ou no Regent's Park. Que me interessa saber que ele atravessa países para isto? Que impacto tem ainda o facto de ele ter chorado, quando o fiz prometer que nunca mais viria falar comigo onde quer que fosse, no mundo? Nenhum. Ele não percebeu também aquilo que eu, por acaso, também nunca tinha percebido: que eu nunca gostei dele verdadeiramente. E que, também, eu nunca soube o quão poderoso e benéfico isso poderia vir a ser, agora.

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