sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Escuridão



Quando o relógio toca à meia-noite, tudo se silencia. Ao fundo, os sinos tocam as últimas badaladas, as árvores libertam os seus últimos suspiros e o mar adormece em serenidade. Os carros soltam o derradeiro rugido dos seus motores, as janelas resguardam-se, as luzes apagam-se e as pessoas adormecem. A lua mostra a sua face, orgulhosa ou envergonhada, enquanto as estrelas desenham sonhos no céu. As luzes das lamparinas iluminam os passos fantasma na calçada dos passeios e os vadios vagabundos vagueiam pelas ruas. A noite desperta os sentidos e aguça os apetites mais vorazes. Com ela, traz o desejo e o medo. Por vezes, traz também a solidão…

O vento entoa uma melodia aguda e a chuva ensaia os seus compassos. O céu enche-se de negro e os raios rompem o céu rugindo, completando uma sinfonia sem maestro. Tudo se apaga. Os olhos cegam. Roubam-nos o que afirmávamos ser nosso. Abraçamos o desconhecido. Tudo tem um sabor diferente. É estranho. É aterrador e intimidante. Sentimo-nos perdidos e confusos. Onde está a luz? Onde está tudo o que conhecemos? Onde estamos… nós?

Estamos aqui, baralhados mas inteiros. Com a vida virada do avesso mas fortes. Mas… E se estivermos do avesso e o avesso for o lado certo? E se só nos encontrarmos quando nos perdermos?

E se a escuridão, afinal, for a nossa luz?

(texto escrito para a introdução do concerto dos True Tones)

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