Quando o relógio toca à
meia-noite, tudo se silencia. Ao fundo, os sinos tocam as últimas badaladas, as
árvores libertam os seus últimos suspiros e o mar adormece em serenidade. Os
carros soltam o derradeiro rugido dos seus motores, as janelas resguardam-se,
as luzes apagam-se e as pessoas adormecem. A lua mostra a sua face, orgulhosa
ou envergonhada, enquanto as estrelas desenham sonhos no céu. As luzes das
lamparinas iluminam os passos fantasma na calçada dos passeios e os vadios vagabundos
vagueiam pelas ruas. A noite desperta os sentidos e aguça os apetites mais
vorazes. Com ela, traz o desejo e o medo. Por vezes, traz também a solidão…
O vento entoa uma melodia aguda e
a chuva ensaia os seus compassos. O céu enche-se de negro e os raios rompem o
céu rugindo, completando uma sinfonia sem maestro. Tudo se apaga. Os olhos cegam.
Roubam-nos o que afirmávamos ser nosso. Abraçamos o desconhecido. Tudo tem um
sabor diferente. É estranho. É aterrador e intimidante. Sentimo-nos perdidos e
confusos. Onde está a luz? Onde está tudo o que conhecemos? Onde estamos… nós?
Estamos aqui, baralhados mas
inteiros. Com a vida virada do avesso mas fortes. Mas… E se estivermos do
avesso e o avesso for o lado certo? E se só nos encontrarmos quando nos
perdermos?
E se a escuridão, afinal, for a
nossa luz?
(texto escrito para a introdução do concerto dos True Tones)
Sem comentários:
Enviar um comentário