segunda-feira, 7 de julho de 2008

Carta de amor sem destinatário

Finge que te escrevo em voz baixa.

Sim, em voz baixa... Como se fosse um segredo escondido nas profundezas do mar, cujo silêncio não pode ser quebrado. Escrevo-te em voz baixa porque é assim que estamos perto daquela linha ténue entre o sonho e a realidade, no único e exacto momento em que se tornam um só. Sussurra, porque é talvez quando se ouve melhor.

Vê a lua nos meus olhos e sente o mar na minha pele. Finge que o mundo é grande e, por momentos, só nosso. Que o tempo pára e me deixa tomar-te nos meus braços. Finge que és parte de mim e eu sou parte de ti.
Podes até fingir que o mundo é laranja, o céu é cor-de-rosa e as árvores azuis. Finge que as nuvens são algodão-doce e que podemos dormir nelas. Os carros têm rodas quadradas e as motas são triangulares, os bonés têm hélices para voarmos, os cavalos têm asas e os peixes nadam fora de água. Mas finge comigo.

Dá-me a mão e vamos saltitar pelo campo de flores como crianças felizes, encontraremos casas desconhecidas e abandonadas e faremos delas o nosso cantinho secreto. Falaremos de sonhos, de cavalos-marinhos e de gelados. Cantaremos desafinadamente, mas não há problema - ninguém nos ouve. Vamos, vem comigo.
Anda, dá-me a tua mão. Vamos tocar nas estrelas, escorregar no arco-íris e encontrar o pote de ouro. Vem comigo procurar trevos de quatro-folhas e encontrar estrelas-do-mar. Salta no trampolim e mergulha na piscina, vamos ver o dia a dar lugar à noite e contar cometas.Vamos escrever cartas de amor lamechas, e cartas foleiras, vamos contar anedotas e rir desbragadamente. E rebolar na relva? Saltar em cima da cama? Claro! Vamos dar beijinhos aos cães, brincar com os gatos e imitar o canto dos pássaros. Fazer o jogo do sério com uma tartaruga e dizer para um peixe: "How you doin?".

Vamos contrariar o mundo! Vamos jogar futebol descalços no meio da estrada, fazer equilíbrio na barra dos passeios, fazer o pino numa sala de cinema, dar cambalhotas no sofá, correr no meio das regas do parque municipal, imitar uma estátua. Vamos dar abraços na chuva, fazer olhinhos de lémur e bochechas de esquilo. Vamos meter conversa com as pessoas da rua e tocar viola na praia. Vamos a uma festa com música do tuntss tuntss tuntss e dançar o macarena. Vamos aprender o chachacha e o tango, aprender a falar italiano e passear pelas lojas como se fôssemos turistas espanhóis. Vamos pôr um cartaz a dizer "piso molhado" na zona dos tapetes, no shopping, e cantarolar a música do 007 enquanto andamos com um ar suspeito e mãos em forma de pistola.

Uma flor. Um beijo no pé. Um guarda na praia. Um sol risonho. Um granizado. Uma pizza. Um balão de água. Um telefonema. Risada de bebé. Uma maçã. Uma guitarra. Um sonho. Um beijo à esquimó. Um olhar indiscreto. Um sorriso rasgado. Um gelado de meloa. Um poema de amor. Um amo-te. Um rádio. Uma bola às bolinhas verdes. Uma brisa fresca. Uma chave sem fechadura. Um segundo. Uma pausa. Uma canção de embalar. Um momento. Um amo-te. Uma folha seca. Uma lagartixa verde. Um amo-te. Um mundo só nosso. Um amo-te...

Finge... Que tu és meu e eu sou tua.
Finge... Que ainda não viste quem está mesmo ao teu lado.
Finge... Que o mundo é nosso e que o destino está à espera de aprendermos com os nossos erros. Para quando nos tivermos nos braços, tudo ser perfeito.
Finge... Que esta espera vai acabar cedo.

Shiu...

...

Silencia-te por um momento, e ouve este sussurro...

...

Eu amo-te.

1 comentário:

mike18er disse...

''Um amo.te a'a''

amei este texto :D