domingo, 13 de julho de 2008

Sentir criança


Quantas vezes te sentes criança?

Aquela criança que sorri porque vê uma borboleta a voar, que se ri porque simplesmente está feliz. Criança que vê tudo da forma mais simples, e que, no entanto, ambiciona sempre mais.
Decidi continuar criança. A criança que eu sou não pode nunca perder-se, porque sem ela meu o mundo torna-se cinzento, sem cor alguma.
Então vou para a rua e brinco com as crianças. Jogo futebol descalça no alcatrão, salto à corda. À noite, todos brincamos às escondidas, tenhamos 4 ou 25 anos. Eu digo que as estrelas são bonitas e admiro-me com a lua. Imagino que ela é um queijo. Vou colher uma flor e enfio o nariz entre as pétalas para sentir o seu cheiro. Quando vou na rua canto, se assim me apetecer. Canto na rua, no shopping, na praia. E se me apetecer até danço, ignorando o que todos os outros acham da minha sanidade mental. Finjo que sou bailarina, ou ponho as calças até meio do cú e imito as estrelas dos DZRT, e até posso fingir que sou a Floribela. Pego num comando e finjo que sou uma cantora mundialmente famosa. Ou faço uma pistola com os dedos e finjo que sou agente secreta. Salto por cima das ondas pequeninas, bato palmas e rebolo na relva. Não interessa. Faço qualquer coisa, desde que me ria. Há melhor que o riso de uma criança? Porque ele é genuíno, verdadeiro, sincero. Não há réstia de falsidade nele.
Quantas vezes ouvimos pessoas a dizer da boca para fora: "sou como sou", "sou eu mesma". Será isso realmente verdade? Acho que as únicas pessoas que são o que realmente são, são as crianças. Ainda não têm aquela consciência incomodativa de que alguém está a observá-las.
Contudo, esta é a única idade em que podemos realmente ser o que quisermos. Podemos ser crianças, ou ser adultos, ou então as duas coisas. Das crianças eu quero os sonhos, a simplicidade, a sinceridade, a vida. Dos adultos apenas quero a maturidade e a experiência de vida. Das crianças quero o brilho no olhar, a expressão do seu sorriso, a alegria. Dos adultos, mais nada.
Vamos fugir, vamos abraçar a vida. Vamos fugir dos padrões, das regras. Vamos ser realmente o que somos. Vamos deixar a lua tocar no nosso nariz e sorrir por sentirmos um queijo no seu lugar. Vamos sentir-nos crianças e saltar, brincar, rir. Vamos sentir a brisa na nossa cara, abrir os braços ao mundo, vamos cair e rir de tudo e mais alguma coisa. Vamos fazer figuras, porque o mundo é um tédio se todos nos comportarmos de forma exemplar.
Vamos começar hoje, vamos ver a criança que as pessoas crescidas já foram, e vamos senti-las porque está guardada dentro de nós.

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