sábado, 24 de outubro de 2009

conselhos de um anjo


Hoje aconteceu-me algo que nunca pensei que me viesse a acontecer. Hoje passei a acreditar em Anjos. Não daqueles que conhecemos, que são os nossos amigos que muitas vezes são as nossas almofadas para não nos magoarmos mais do que o necessário. Não.. Não é desses que falo. Falo daqueles que aparecem uma vez na vida das pessoas, e que nunca mais vemos apesar de o querermos.

Como alguns de vocês sabem, tenho andado um bocado bipolar. Posso passar o dia a rir, mas às vezes basta vir para casa e recordar certas coisas que me vou abaixo. Há poucos dias acabei de escrever tudo o que sentia, preparada para que houvesse quem soubesse finalmente o efeito que provocou, todas as consequências das suas acções. Mas bastou um olhar e umas palavras para que perdesse coragem, para que perdesse o sentido e o contexto.
Foi então que vi, hoje, dia 22 de Outubro de 2009, alguém que me mudou com 10 minutos de conversa.

Fui visitar amigos ao Amor de Deus e quando voltei para a paragem para ir para a explicação, encontrei dois homens. Um velhote todo estiloso a ouvir mp3 e um sujeito careca e de olhos azuis, rechonchudinho e com sotaque brasileiro. Vou dar-lhe a alcunha de "Anjo", e já vão ver porquê.

A: Já são três?
M: Desculpe?
A: Já são três horas?
M: Faltam dez minutos.
A: Muito obrigado.

A: Sabe aquilo da vodafone e da tmn, das chamadas grátis?
M: Diga?
A: Aquele tarifário das chamadas grátis. Todo o mundo tem, não é?
M: Bem, depende um bocado. A maior parte dos meus amigos tem, mas adultos não sei...
A: Agora as pessoas ficam todo o tempo falando ao telemóvel e mandando mensagem. Assim vale a pena esse tarifário.
M: É verdade.
A: Mas não enjoa de telemóvel?
M: Depende dos dias...

A: Está chegando a época que mais gosto...
M: Qual?
A: O Inverno.
M: A sério? Prefere o Inverno ao Verão?
A: Prefiro. Não está tanto calor.
M: Está frio e chuva. Eu prefiro o Verão, o sol.
(conversa sobre a diferença de tempo em Portugal e no Brasil)

M: Bom bom, era que quando chovesse fosse à noite, quando estamos a dormir.
A: Pois, mas nada é como a gente quer.
M: Pois, infelizmente não...
A: Se tudo fosse como a gente quer, o mundo estava uma bagunça. E sabe porquê?
M: Porque as pessoas querem coisas diferentes. O que umas querem, as outras não...
A: Exacto.

A: O ser humano nunca está satisfeito, quer sempre mais e mais. Por isso nunca dá valor.
M: Há pessoas que dão valor.
A: Só dão valor quando perdem. Acredite em mim. E mesmo assim não dão valor.~
M: Não?
A: Não, nós podemos dar valor ao que perdemos nos primeiros tempos. Mas depois nos acostumamos à perda. Achamos que não merece a luta.
M: Mas há pessoas que lutam e depois percebem que não vale a pena...
A: Mas aí já batalharam. Por isso é que digo que estamos sempre a perder.
M: A perder?

A: Nós não vivemos num mundo de Glória, vivemos num mundo de perda.
M: Oh.. Porquê?
A: Cada dia que passa é um dia que perdemos. Perdemos sempre.
M: Também ganhamos.
A: Desde que nascemos que perdemos. A começar pela inocência.
M: ...
A: Imagine um aperto de mão. Está apertando com força e pode ficar o tempo que quiser. Mas à medida que os minutos passam, os dedos vão escorregando, as mãos vão perdendo a força .. até que se largam. A vida é assim.
M: Isso não quer dizer que percamos tudo.

A: Que idade é que tem?
M: 16
A: 16.. Eu tenho 33 anos.
Você ainda tem muitos anos para viver. Não se fique torturando quando quiser fazer alguma coisa. Faça. Quer comer um bolo gigante de chocolate? Coma e não se arrependa. Quer sair de casa? Saia, vá ter com uma sua amiga. E se ela disser "ah hoje não dá jeito", também não faz mal.. Saia para ver a paisagem, vá passear e conhecer sítios novos. Porque amanhã pode já cá não estar. Temos que viver o dia como se fosse o primeiro e o último. O primeiro porque temos de aprender, e o último porque temos de aproveitar.
M: Isso é bem verdade...
A: Como se chama?
M: Margarida
A: Margarida... Não perca tempo a fazer projectos para daqui a dez anos. Nem a planear demasiado. A vida é agora. Faça agora. Aja agora.

A: Precisamos de duas coisas na vida. Uma delas é fé. Você tem fé?
M: Tenho.
A: E basta a sua fé para realizar as suas coisas?
M: Não, vontade e trabalho também.
A: Precisamos de fé e... ?
M: Trabalho?
A: Coragem.
M: Coragem...
A: Você pode viver da fé, mas esperará sempre que as coisas aconteçam. Coragem é dar o passo. Se você tem algo na mão e quer dar a alguém, tendo fé que é o melhor.. Só não dá por falta de coragem. Quando temos de falar com alguém, quando queremos resolver apenas não o fazemos porquê?
M: Falta de coragem.
A: As únicas pessoas que ganham na vida na mesma medida em que perdem são as que têm fé e coragem, que perdem o medo e a angústia. E sabe o que é que chamam às pessoas que têm coragem? De dar o primeiro passo? De doidos. Já viu? Ahah, o mundo os chama de doidos.
M: Não faz mal sermos doidos.
A: Há poucas pessoas doidas. Faça o que tem a fazer, o resto não importa. Antes ser doido que arrependido.

E foi assim. Sentei-me no banco do autocarro e deixei a meu lado um lugar vago para o homem. Ele foi embora com um sorriso, lá para trás. Juro que não o vi sair em nenhuma paragem, e estive atenta a isso. Quando chegámos ao terminal, levantei-me antes do autocarro parar para ver se havia possibilidade de continuar a conversa. O homem simplesmente havia desaparecido, sem eu saber o seu nome ou para onde foi. Desapareceu, não estava no autocarro. Senti vontade de chorar, atordoada de tudo o que estava a acontecer... De como tudo, mas tudo mesmo que este homem disse se relacionava com a minha vida, com as minhas atitudes mais recentes. Como era possível?

Acho que era um Anjo...

2 comentários:

Rita disse...

OMG .. Sem palavras para descrever :O Simplesmente espectacular .. Às vezes sem nós esperarmos , aparece-nos à frente quem nós mesmos esperamos :S Fez-te bem falares com ele ;D

Rita disse...

menos*