terça-feira, 7 de setembro de 2010

Gadanhada no trombil que até vi estrelas


gadanhagadanho ou alfanje é uma ferramenta utilizada na agricultura para ceifar cereais ou para o corte de erva. Consiste de uma lâmina na extremidade de um cabo de madeira ou metálico de aproximadamente 170 cm, com uma pega perpendicular no extremo oposto e outra pega no meio para fornecer controle sobre a posição da lâmina. A lâmina tem aproximadamente 70 cm, com formato curvilíneo e fica perpendicular ao cabo principal, no outro extremo deste. (..) Entretanto, a gadanha requer muita experiência e cuidado para ser manuseada.


Pois é. Andava eu a ceifar acácias, que são umas árvores estúpidas e invasoras com raízes gigantes e que adoram ver-se rodeadas de silvas, em condições metereológicas precárias (debaixo de chuva, vá) quando comecei uma conversa gira sobre doenças e dores com as minhas colegas de trabalho (isto dito assim até parece coisa a sério) Susana e Teresa. Até que a dona Teresa pergunta qual foi a dor mais dolorosa que alguma vez sentimos. A Susana foi a primeira a responder: um pneumotórax. E contou-nos da sua "aventura" na medicina. A Teresa falou da mãe que deu à luz duas filhas sem epidural. Eu ia começar a responder - eu bem que sabia qual tinha sido a minha dor mais dolorosa :| - quando levo com uma gadanhada no trombil que me faz ver algo parecido a estrelas. Irónico, hein? É que nem me apercebi da aproximação da coisa. Só ouvi, de repente, muitos gritos do Caramelo, e uma sombra de um objecto a aproximar-se a uma velocidade estonteante que não me deu qualquer hipótese de reacção, uma vez que estava de costas para a arma lançada.

Tumbas! 
Até se me vieram as lágrimas aos olhos, a mão instantaneamente à cabeça e uns quantos "foda-se" cá para fora. As minhas colegas apressaram-se a dizer "mas estão parvos ou quê?! Margarida estás bem? Estás a sangrar? Podes chorar, que isso deve ter mesmo doído". Porra, doeu e não foi pouco. Levaram-me dali para fora, nem consegui ver se era a gadanha grande ou a pequena, mas desconfio que não fosse a coisinha mais mini do mundo. Para ajudar, o rádio estava sem bateria e os Guarda-Rios que estavam lá desapareceram. De repente, todos tinham desaparecido, nem carrinhas, nem nada. Eram os Javalis (nós) e o mato. E os telemóveis sem rede e a chuva a molhar-nos o cucuruto. Chovia, e o estojo de primeiros socorros era totalmente inútil pois não tinha gelo e por sorte, apenas tinha ficado com um grande galo, que mais parece um corno (hey dude up there, is this some kind of warning hein?). A Teresa lá telefonou e a chamada ouvia-se aos cortes. Felizmente, de uma frase como "Precisamos que nos venham buscar, temos um elemento ferido. A Margarida magoou-se a sério. Levou com uma gadanha na cabeça", o Cláudio (nosso coordenador) apenas conseguiu ouvir "alguém magoou-se". Bem, pelos vistos foi suficiente pois sempre apareceram.

O Caramelo coitado, ficou mesmo atordoado, pediu-me mil desculpas e disse que me levava ao hospital mas como não foi de propósito e não tinha sido nada de muito grave, não foi preciso nada disso da parte dele.
Peguei no telemóvel e tratei de mandar mensagem ao Miguel a ver se os pais dele se encontravam no hospital a trabalhar, para verem se a gadanhada não tinha afectado os miolos. Cinco minutos depois, tenho a mãe dele a ligar-me com uma data de instruções para quando chegasse ao hospital. A eficiência é uma coisa fantástica.
Assim, cheguei a casa e telefonei ao meu pai para me levar ao hospital, uma vez que tinha ficado sem bateria a meio do caminho e comecei a sentir com cada náusea... E assim fomos, felizes e contentes para o hospital. 

Para ficar lá 3 horas. Cheguei mesmo a pensar que ia pernoitar na sala de espera à espera de um relatório de sete linhas da TAC. Depois claro, ali o meu contacto super eficiente foi fazer uma visita em família para me ver a mona. Julgo que o pai dele não gostou muito do meu aspecto, pois ao cumprimentar o meu pai disse com uma cara preocupante, e olhando-o bem nos olhos: ela está muito magra (acentuando o muito). Até fiquei intimidada. Mas eu adoro aquela malta! São impecáveis.

Por falar em impecabilidade, tenho de sublinhar um pequeno pormenor. A mãe do B. ligou-me preocupada comigo e extremamente disponível, a oferecer-se para vir ter comigo ao hospital caso estivesse sozinha, a perguntar se eu precisava de alguma coisa. E depois a ligar-me mais tarde outra vez para saber como estava, se já tinha comido, se estava deitada, se o galo era muito grande. Foi muito agradável sentir-me acarinhada e que há pessoas que se preocupam genuinamente comigo, e que vão querendo saber ao longo do tempo a evolução das coisas. Há que dar valor a estas coisas, quando as temos pois podem ser muito raras.

E pronto, está contada a aventura de como a vossa amiga Margarida activou o seguro de acidentes de trabalho da  CMC no seu primeiro trabalho oficial. 
Gadanhada no trombil 
(já viram a fotografia, garanto-vos que não é muito agradável levar com aquilo no focinho).

1 comentário:

Morce disse...

No primeiro dia de trabalho, vi a morte três vezes à frente.
I TOLD YOU, THAT FUCKING JOB IS NOT SAFE DUDEEEEE!!!!
(ah, as melhoras)