segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Carta ao amor


É que a vida agora anseia liberdade. Um regresso deste retiro, deste estudo compulsivo das lições de uma evolução que não abranda. Que corre, e tropeça, caindo. Perdi-me, ao encontrar-me de muitas formas. Ao saber o que sou, e o que me falta. Tanto, tanto. Se ao menos eu pudesse ser dona de mim própria... Deixar-me guiar pelo coração, ignorando as palavras e ordens do meu quotidiano. Não fugir às responsabilidades não é o mesmo que se agarrar à rotina. E eles não entendem isso. Não me deixam ser genuína. Dentro destas quatro paredes, vejo uma prisão. Um "ter de" em vez de "querer que".Se te fecham a porta, abre uma janela.

E foi então que apareceste tu, cheio de incongruências e idiossincrasias, abrindo-me essas janelas para um mundo totalmente novo. Partimos para a aventura, de olhos postos no horizonte. Escondias religiosamente um segredo, eu confiei em ti mas algo mexia cada vez mais com o teu espírito. Enquanto os meus olhos brilhavam, os teus desvaneciam. Um dia pus-me em causa e não, não era eu. Eu atirara-me a esta aventura de olhos fechados, numa espécie de entrega da alma. Um dia, as tuas intenções iniciais de toda esta viagem foram abafadas, esmagadas mas como que amolecidas. Algo alterou por completo o teu plano, traçando um novo rumo no mapa, contraditório a tudo o que conhecias anteriormente. Chegava a noite e olhavas o céu. Mas não se reza sem se confessar. E que piedosas confissões! Facas que me trespassaram o peito...

Em mar raivoso, lancei-me em barco de remos. Qualquer sítio seria melhor que este sabor a agridoce. E tu, sovado e espancado pelas minhas palavras, mergulhaste sem hesitar atrás de mim. Uma luta pela sobrevivência, que, por vezes, dás a entender que tem minha influência. Lutas para te manteres à superfície, engolido pelas rancorosas ondas do vasto oceano de perguntas em busca de resposta. E voam marés, mudam-se luas e aqui continuas tu, a nadar incessantemente procurando encontrar destino a um coração que se encontrava perdido, cambaleando entre o certo e o errado. E aqui estão minhas mãos vazias e coração cheio. Cheio do que se pode esperar. Cheio das únicas forças capazes de mudar o mundo: fé, coragem e amor. 

Pacientemente, fui juntando os pedaços de mim no chão desfeitos.
E vi-te agarrado a este frágil barco, de olhos baços, desamparado, de escassas forças, mas com um único querer...

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