sábado, 2 de abril de 2011

devaneios em linhas férreas


Lá bem no fundo, eu sempre soube. Nunca o disse em voz alta, nunca o escrevi em qualquer lugar. Mas sempre o soube, desde pequena. Sempre fui uma criança que pensava demais. Que, aos 6 anos, se perguntava por que raio haveria tanto ódio na Terra. Por que é que as pessoas não davam o braço a torcer e iam falar com o "inimigo", em vez de piorarem tudo. Sempre fui de conversas profundas e sentimentais. Conclusões tão simples que toda a gente procura encontrar. Sempre fui de reflectir e dar cabo da minha cabeça para descobrir as respostas. E sempre tentei ser inevitavelmente boa pessoa. Uma pessoa com um fundo bom e que procura ir mais longe com o coração. 

E com o coração cresci. Sempre com ele espalhado por todo o meu corpo. Sempre fui mais impulsiva do que racional, mais quente do que fria, mais humana do que inteligente. E gosto de mim assim. Apesar de toda a dor a que me poderia escapar se não vivesse as coisas com tanta intensidade, vou sempre tornando-me mais forte e melhor. A indiferença e a frieza são das coisas que mais odeio. E confesso que já fui assim, em certas fases da minha vida. Mas sempre vivi com o coração no peito, nos olhos e na boca. Sempre vivi melhor a dar tudo de mim ao mundo do que excluir o mundo para só me dar a mim. Se era para ser assim, por que é que se criaram biliões de pessoas no mundo? Se fosse para sermos um "eu" único, criava-se só uma pessoa... Ou vá, umas quantas pessoas suficientemente afastadas com uma probabilidade de um em um milhão de se cruzarem umas com as outra. E eu recuso-me a ser assim. Não quero nunca tornar-me indiferente. Quero viver com entusiasmo e o entusiasmo vem da alma, e não do cérebro.

As pessoas indiferentes tornaram-se apenas mais grãos de areia no deserto, nunca formaram um oásis.

Nunca soube controlar o coração totalmente. Nunca soube criar camadas de protecção. Quando ergui muros gigantes, eram sempre de areia. Facilmente deitados abaixo. Porque o coração fala sempre mais alto em mim. Há quem diga que é falta de maturidade. Mas outros dizem que sou muito madura para a idade que tenho. Nunca chegam a um consenso. Talvez por ter duas partes de mim que nunca coincidiram em idade. 
Chamem-me estúpida, mas eu sempre soube...

Sempre soube que uma parte de mim nunca foi criança e que outra parte de mim nunca será adulta.

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