sábado, 10 de maio de 2008

Em casa...

Podia ser um dia qualquer
Podia não ser nunca

Podia ser a espera
O que mais inquietava

Podia ser a dúvida
A certeza que não queria ter

Podia ser tudo
E parecia já não ser nada

Mas era preciso que fosse
Algo

Já tanto fazia
Tanto se dava

Podia ser um paraíso
E não o inferno presente

Podia ser bom
Fora bom
Mas era mau

Não podia ser mau
Não, isso não podia
Já não podia mais

Podia ser calma e tranquilidade
Bem-estar e generosidade

Era turbulência, inquietação
Perplexidade, torpor

Por não poder ser
Não podia ser mais assim

Daria o meu tempo todo,
Anos, minutos e até segundos

Para que nada fosse assim
Porque podia, devia, ser melhor

Podia ser bom para todos
Não pode ser apenas para um

Podiam evitar-se as lágrimas,
A incompreensão

A barafunda de não sabermos
O que somos

Se não nos derem importância
Poderemos ser importantes?


Não se pode andar à deriva
Sem o risco de perder o rumo e o Norte

Merecemos mais
Somos importantes

Se o não somos
Deixamos de existir
E acaba aqui

Cada dia tem de ser válido
Ele não voltará atrás
Para emendarmos o que se fez

Voltarão, sim, novos dias
Que nos servirão de emenda
Se tivermos aprendido

Não quero saber tudo
Perdia o interesse

Quero estar capaz de aprender
E saber que o posso fazer

Para ensinar
E ter o prazer de crescer mais
Crescendo ao lado de quem cresce

Ensinar o prazer do Sol, duma Lua cheia
Duma brisa de Verão
Que afaga os rostos
De quem vai ao seu encontro
Ou se senta à sua espera

Podia haver felicidade
Mas do nada pouco nasce
A não ser mais nada

E daqui tem de nascer algo

O Mundo não pára
Por teres desistido

Nós não desistimos
Não queremos desistir

Nem sequer de ti
Ainda…

A nossa resistência é o nosso mérito
A medalha ganha no fim dos dias

É o que nos leva a atravessar oceanos
E a baptizar novas terras

Somos como o tempo
Um relógio nunca pára

Quer sinta a tua pulsação
Quer seja posto de lado

Não aprende nos livros
Quem não aprendeu com o tempo

Não saberia sequer entender as palavras

Podia ser tudo melhor

Assim houvesse vontade

Preocupa-me agora
Até me habituar a não me preocupar

E fá-lo-ei, como fiz muitas outras coisas
As que quis e as que não quis

Vou viver como não quero
Mas vou viver pelo que quero

Foi a última lição
E apetecem-me todas as outras

Mas quero comigo
Quem queira aprender

Quem queira…
Comigo envelhecer


Maria Fernanda Porto (mãe)

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