domingo, 6 de novembro de 2011

'e quero chorar, hoje apetece-me chorar e que ninguém me pergunte o que tenho'



Há amizades que se amam. Amam-se porque nos fizeram felizes. Amam-se porque se fizeram intrínsecas à nossa maneira de ser. Amam-se porque atingiram a fase da telepatia. Amam-se porque o verdadeiro amor é incondicional, apesar de todas as diferenças. Há amizades que não sabemos que amamos, até à primeira discussão, ao primeiro arrufo, à primeira lágrima caída de tristeza ou desilusão. Até ao primeiro espicaçar da saudade que nos leva a dar o braço a torcer. E aí sabemos se queremos ou não partilhar o resto dos nossos dias com essa pessoa, esteja ela onde estiver, demore ela o que demorar. Partilhará o resto dos nossos dias na nossa memória e no nosso coração. 

Eu pensava que tinha uma amizade dessas. Fazíamos planos, sonhávamos futuros e, acima de tudo, permanecíamos juntas, independentemente de tudo. Era uma amizade que apesar de influenciar mutuamente a vida de cada uma, não interferia com a personalidade de cada uma. Éramos totalmente opostas e adoravamo-nos por isso. Adorávamos a nossa relação por isso mesmo. 

Um dia, perdi-me no tempo, não sei o que aconteceu. Tudo se alterou e foi morrendo aos poucos. O amor da amizade deixou de ser correspondido. Não percebi como nem porquê, mas o afastamento foi quase total. Foi o primeiro ano que não me desejou um bom aniversário. Não me dirigiu a palavra sequer. O amor passou a ódio.

Um dia ela arrependeu-se de me ter virado costas. E eu, pouco a pouco, fui aceitando as suas desculpas. Perdoei. Porque quem ama perdoa. E dei-lhe uma segunda oportunidade. Não demorou muito até eu querer a melhor relação que tive, de volta. Mas não era correspondido. Ela apenas queria corrigir os seus erros e acabar com os ressentimentos. Eu queria voltar a nós.

Ontem, pela primeira vez em muito tempo, abri-me com ela. Porque já andava triste, melancólica e chorosa. Ontem, pela primeira vez em muito tempo, chorei compulsivamente por ela:

Margarida desculpa mas eu não te consigo dar mais.

E eu pergunto-me: porque é que Deus, o destino, o que fosse, cruzou as nossas vidas, deixou que criássemos um mundo para depois acabar em nada? Eu, normalmente, acredito que tudo acontece por um motivo. Mas desta vez não entendo. Não entendo! E só choro e choro porque a culpa não foi minha, ou se calhar foi, e não percebo o que falta.

Ela deixou uma marca irreversível em mim. Um vazio gigante que mais ninguém consegue ocupar. Muita coisa deixou de fazer sentido. E eu, mais uma vez, choro.

1 comentário:

Saia Laranja disse...

Belo post! E belo título também, onde é que eu já li isso? Força!